quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Territórialidades, feminismo e combate ao racismo religioso em intervenção midiática durante o ENGA.

A sétima edição do ENGA – Encontro Nacional de Grupos de Agroecologia aconteceu entre os dias 28 de setembro a 01 de outubro de 2015. O evento se realizou em conjunto com o IX Congresso Brasileiro de Agroecologia, no Hangar Centro de Convenções da Amazônia, em Belém – PA.
Santana, expondo a resistência no quilombo do Abacatal. 


Povos e comunidades tradicionais foram convidados para as rodas de conversas, e para levar as questões dos povos tradicionais de matriz africana ao debate promovido pelos grupos de agroecologia, o Mansu Nangetu, em parceria com a Rede Amazônica de Tradições de Matriz Africana – REATA, e com a Associação Afro religiosa e Cultural Ilê Iyaba Omi – ACIYOMI; promoveu uma intervenção midiática unindo dois projetos de comunicação social comunitária e étnica: a rádio-janela Azuelar, do Instituto Nangetu, e a Rádio Portão da ACIYOMI.
Feminismo negro e as lutas dos povos tradicionais na Amazônia.

A intervenção foi a veiculação de um programa de rádio com uma hora de informação produzida pelos projetos dos terreiros, levando aos participantes do encontro depoimentos e entrevistas de autoridades de terreiros de matriz africana de várias regiões brasileiras com conteúdos relacionados aos temos das rodas de conversas que completavam a programação.
Na segunda-feira, dia 28 de setembro, o tema foi “Territórios e Territorialidade, não esbandalhe meu tapiri!”, e a necessidade de políticas públicas de preservação de igarapés e matas urbanas como garantia da continuidade das práticas tradicionais nas grandes cidades, além da crítica à propriedade privada no sistema capitalista, que impede o acesso ao patrimônio ambiental. Já na terça-feira, dia 29, o tema foi “Gênero e Feminismo: te orienta ‘macho’!”, debatendo o protagonismo afro-feminino nas lutas dos povos tradicionais na Amazônia. E finalmente, na quarta-feira, dia 30 de setembro, o avanço da política fundamentalista da bancada “BBB” (Boi, Bala e Bíblia) norteou a conversa sobre o tema “Intolerância Religiosa: tu é doido é?!”.
Combater o racismo religioso para a sobrevivência do pensamento afro-centrado.

Nos três dias de debates, os participantes das rodas de conversa evidenciaram o racismo institucional, aquele que é praticado por agentes do estado e que nega direitos de cidadãos aos povos e comunidades tradicionais, em especial na análise do comportamento da bancada BBB no congresso eleito em 2014, com o “b” de ‘boi’ que representa o agronegócio a avançar sobre terras quilombolas e indígenas para a criação de pastos e monoculturas agrícolas, a bancada do “b” da ‘bala’ a promover a indústria do medo que promove o genocídio da juventude negra nas cidades, e a bancada do “b” da ‘Bíblia’ a promover a demonização do sagrado de origem na África negra e, com esse procedimento, a promover o etnocidio pela negação e tentativa de apagamento da compreensão de mundo que gera o pensamento afro-centrado.
Apesar da análise de conjuntura resultar num quadro desolador, os debatedores afirmaram que os mais de quinhentos anos de resistência à violência colonizadora já demonstraram a capacidade de sobrevivência do povo negro na adversidade em que vivem no Brasil, e que apesar do ambiente hostil, nossas tradições não serão extintas.

Participaram das conversas: Mametu Nangetu e  Táta Kinamboji (Mansu Nangetu), Maria Malcher (CEDENPA e Comitê da Marcha de Mulheres Negras), Raimundo e Santana (Quilombo do Abacatal em Ananindeua), Isabel (Erveira do Ver-o-Peso), e representantes de comunidades ribeirinhas de Maracanã/PA. Edição do programa de Rádio: Vitor Gonçalves, Samily Maria Moreira da Silva e Silva e Sibely Nunes Nascimento.
Bolsistas de projetos de extensão da UFPA formaram a equipe técnica da intervenção midática. 

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