quarta-feira, 11 de julho de 2012

O mês de junho marcou a exibição de filmes sobre a cultura popular no Cineclube Nangetu.


O mês de junho marcou a exibição de filmes sobre a cultura popular no Cineclube Nangetu, foram 5 sessões em que a comunidade do Mansu Nangetu pode conhecer produções audiovisuais com temas variados que se relacionam com as festas juninas - folguedos populares que tem participação ativa dos membros do terreiro.

Erva Bruxa
O primeiro filme a ser exibido foi Erva bruxa (Paulo Gil Soares, 1970, 21min). Erva bruxa é o nome popular pelo qual o tabaco também é conhecido. O filme mostrou a plantação e processamento do fumo por pequenos agricultores em regime familiar na região do recôncavo baiano e provocou reflexões sobre a exploração da mão de obra de comunidades negras que trabalham no plantio e nas industrias da tabacaria em condições precárias.



Conhecer o uso do tabaco na prevenção de cáries e no branqueamento dos dentes, assim como a informação de suas propriedades bactericidas despertou o interesse dos membros do terreiro em pesquisar mais sobre a cultura do tabaco e seu uso medicinal.


De raizes e rezas, entre outros
Em seguida veio o “De raizes e rezas, entre outros” (Sergio Muniz e Francisco Ramalho Junior. Brasil, 1972, 38 min), filme que além de provocar um intenso debate sobre as tradições de tratamento de enfermidades com remédios caseiros feitos à base do conhecimento das ervas medicinais – prática comum entre os povos de terreiro -, também trouxe a discussão da estética do filme, pois a roda de conversa apontou a precisão cirúrgica com que os diretores faziam a montagem das cenas com a música e a sonoridade das culturas nordestinas.

Passaros andarilhos e bois voadores
No dia de Sto Onofre, data importantíssima para o Mansu Nangetu, foi a vez de “Pássaros andarilhos e bois voadores” (Luiz Arnaldo Campos, Brasil, 2011, 15 min) em um enredo onde a vida real se mescla com o mundo encantado de fadas e feiticeiras dos folguedos juninos. A sessão abriu os festejos do santo que inaugura a quadra junina em Belém do Pará, festejos que fazem parte do calendário cultural do Mansu Nangetu, e foi casa lotada... Gente que veio ver a apresentação do Boi Caprichoso de Mestre Alarindo e a quadrilha “Arrastão Junino” - a paixão da juventude do bairro da Cidade Velha.

Um filme de ficção que toma como enredo a cultura popular visto por agentes das culturas populares.... E a conversa que se seguiu mostrou a identificação imediata dos presentes com esse universo encantado onde sonho e fantasia são tnao realidade quanto o 'mundo concreto', e onde as encantarias, os Nkisis e os conhecimetnos de ervas e cantigas podem mudar o rumo e o desfecho da estória – esse é o universo dos terreiros, e o que ficou dessa conversa foi um clamor unificado por mais filmes que tratem das identidades amazônidas... e vivas ao Luiz Arnaldo Campos.

Viva São João
Viva São João! (Andrucha Waddington, BRA/2002, 90 min) foi um 'passeio musical', quase uma outra festa... onde a comunidade cantava e dançava a cada nova apresentação que Gilberto Gil fazia na tela. Foi uma sessão para celebrar a memória musical da quadra junina. Mas também teve a projeção do candomblé de iniciação do neto de pai Chico de Xangô, um registro do ritual que foi feito por Adalberto Junior em Salvador, e que neste dia a comunidade teve a oportunidade de assistir e comentar coletivamente.

Os mestres loucos
O documentário francês Os Mestres Loucos (Les Maîtres fous -Jean Rouch. França, 1955. 30min.) encerrou a programação do mês e causou um impacto na comunidade, pois quando o conselho editorial anunciou que era um documentário sobre uma manifestação religiosa na Nigéria, o que a comunidade esperava era a proximidade com os rituais afro-brasileiros e, ao contrário da espectativa, o que o Jean Rouch mostrou foi um ritual completamente distantes das práticas do Mansu Nangetu

Mas a roda de conversa conseguiu transpor os preconceitos que repeliram incialemnte e depois que passou o impacto do "que doidice é essa?", e depois que os presentes conseguiram "respirar", pode-se relacionar o que foi documentado com a estrutura das religiões tradicionais da afro-brasileiras... Um intenso debate se formou em torno do titulo do filme, chamar o filme de “mestres loucos” é ou não uma forma preconceituosa de se referir àquele ritual? É o olhar europeu que não compreende a corporeidade da religiosidade africana que faz ele identificar a religiosidade com a loucura? A questão que permeou o debate foi como conhecer ou respeitar todas as Áfricas que ajudaram a formar o que é o Brasil - e o que este país tem de melhor - para entender o porque os descendentes da população de dezenas de nações africanas que para cá vieram, nos dias de hoje são apenas chamadas de "Negros". Aliás, e em respeito às Áfricas negras brasileiras, é importante registrar que essa compreensão aconteceu também em debate virtual com Clementino Junior, debate muito posterior ao dia da sessão.

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