domingo, 15 de julho de 2012

Cineclube Nangetu recebeu visita da Programadora Brasil.


Mametu Nangetu contando a experiência cineclubista para Leandro Batista e Carlos Alberto Mattos da Programadora Brasil.

Foi uma sessão especial, especial porque o Cineclube Nangetu recebeu neste dia uma equipe da Programadora Brasil que veio a Belém vivenciar o uso dos filmes da Programadora Brasil nas atividades de Cineclubes que destacam pela atuação como exibidores dos filmes do catálogo da Programadora. E essa visita para conviver conosco durante a preparação e realização da sessão foi festejada por toda a comunidade.
Mametu Nangetu chamou os coordenadores do cineclube e o conselho editorial e pediu que mobilizassem as organizações parceiras para vir participar da sessão e ela mesma mobilizou a comunidade do terreiro para que a comunidade participasse desse momento.
A cozinha ficou na responsabilidade de Mametu Deumbanda, que coordenou a equipe que preparou bolo do milho, pipoca e cachorro quente para os convidados. Com tudo pronto para o inicio dos filmes, baixou-se a tela para a sessão com casa lotada e o cesto de pipoca passando de mão em mão...
Representantes de várias organizações sociais prestigiaram o evento e contribuíram com o debate ao fim do filme, dentre os presentes estavam a advogada Celi Abdoral, da Sociedade Paraense de Defesa de Direitos Humanos/ SDDH (Cineclube Café com Direitos Humanos), e o sociólogo Domingos Conceição, do Movimento Afro-descendente MOCAMBO, e lideranças de terreiros, como Tatetu Kalengunzo, do Mansu Axé Citacura, e também dos que fazem parte da Rede de Cineclubes em Terreiros da Zona Metropolitana de Belém (Federação Paraense de Cineclubes/ PARACINE), Tatetu Dianga Moxi (Pai Esmael Tavares), do Terreiro Estrela Guia (Cineclube Estrela Guia), e Mametu Kátia Hadad, do Abassá Afro-Brasileiro Konsenzala de Kafungê (Cineclube Konsenzala).
Tata Kinamboji e Táta Dianvula assistiram o filme da área para fumantes.
Ao fim da exibição, se reorganizou o espaço do terreiro numa grande roda para a conversa sobre cineclubismo nos terreiros e os filmes da sessão. Foi Mametu Nangetu quem iniciou o debate,e começou agradecendo a presença dos membros da comunidade, das organizações parceiras e de todos os que vieram na programação do cineclube, disse que esta era uma noite especial em que o cineclube recebia a equipe da Programadora Brasil formada pelo Leandro Batista e o Carlos Alberto Mattos, e que esperava que a conversa fosse proveitosa para todos ali presentes.
Mametu continuou falando da experiência cineclubista e da importância do cineclube para o Mansu Nangetu, e disse que o cineclube havia se tornado uma eficiente ferramenta de combate ao racismo pelo viés da intolerância religiosa,Pai Esmael acrescentou que é o interesse da juventude de seu terreiro que mantém a atividade cineclubista, e contou orgulhoso que seus netos já fizeram até oficinas em audiovisual e que já estão fazendo pequenos filmes em seu terreiro.
Celi Abdora, (em primeiro plano) falou das redes e das parcerias do cineclube.
Celi Abdoral avaliou a articulação dos cineclubes dos terreiros e disse que essa rede se expandiu em novas fronteiras e com outras instituições, citou a parceira com o cineclube “Café com direitos humanos” (SDDH) e a discussão da transexualidade nos terreiros que foi provocada pelo filme Bombadeira, do Luís Carlos Alencar, em maio passado,... Disse que algumas coisas eram importante de ressaltar nessa articulação potencializada pelo Instituto Nangetu e encampada pela PARACINE e o Conselho Nacional de Cineclubes - CNC, uma delas é que pela localização dos terreiros em bairros periféricos a rede espalha o acesso aos conteúdos culturais e cria situações muito próxima daquilo que chamamos de democratização do audiovisual, pois atende as camadas mais pobres da população e acontece em áreas desprovidas de equipamentos culturais.Continuou contando da sessão realizada nessa parceria com a SDDH no Cineclube da ARCAXA, e que a divulgação da sessão para discutir Direitos Humanos nos jornais e outros veículos de informação acabou por levar um grupo significativo de advogados para um contexto desconhecido da maioria dos praticantes da profissão – um terreiro e no “olho do Guamá”...
E aproveitando a 'deixa' da memória do Bombadeira, Celi apontou questões de gênero e a representação dos papeis sociais de gênero que foi expressa na “A saga do guerreiro alumioso”.... Ela chamou a atenção para detalhes como, em principio, mulher não senta à mesa para discussão política e que a mulher estava o tempo todo no espaço doméstico: na cozinha. A divisão sexual do trabalho, inclusive a divisão de gênero nos trabalhos ritualísticos das religiões afro-brasileiras tomou conta da conversa, e Celi comparou a situação retratada com a participação da mulher nas lutas sociais na Amazônia, um lugar onde as mulheres são lideranças políticas inclusive na luta pelo direito à terra.
Domingos Conceição durante a roda de conversa.
Nesse momento Domingos Conceição relacionou os conflitos de terra e o coronelato nordestino com a grilagem de terra e a luta pelo direito à terra na Amazônia, mas também trouxe a discussão sobre a religiosidade expressa no filme e sem saber direito quais eram aqueles cultos, disse que percebia traços da religiosidade afro-brasileira naqueles rituais.
Carlos Alberto Mattos disse que em recente divulgação de pesquisa, o Pará foi considerado como um dos estados mais católicos do Brasil. Mametu Nangetu retrucou argumentando sobre a negação do IBGE em contabilizar a população dos terreiros no censo de 2010, disse que coordenou a pesquisa de dois mapeamentos de terreiros e que estima que somos 10% da população brasileira. Táta Kinamboji colocou em dúvida os dados estatísticos, apontou para o Táta Kitauanje e disse “esta aqui o diretor da festa de São Benedito – Igreja do Jurunas – e ele é sacerdote de terreiro”, em seguida apontou para Pai Esmael Tavares e disse que era ele quem fazia a procissão de São Sebastião na Cidade Velha, e que o finado João de Guapindaia, renomado lider de terreiro do bairro da Pedreira, acompanhava o Círio “pregado” na berlinda de N. Sra. de Nazaré. Contou, ainda, que quando foi fotografar na procissão de N. Senhor dos Passos na sexta feira santa de 2010 teve a grata surpresa de perceber que numa procissão pequena, com pouco mais de 300 pessoas, a maioria dos devotos naquela procissão era composta de irmãos de terreiros, mas, enfim, as pesquisas que apontam o alto percentual da população católica não aceitam a dupla identidade, e que, ao fim, os dados não refletem a realidade....
Leandro Batista parabenizou a todos que fazem o cineclube acontecer.
Leandro Batista pediu a palavra e registrou que estava na sessão para conhecer o trabalho do cineclube, trabalho que foi reconhecido pela Programadora Brasil como de um cineclube que se destaca em suas atividades, assim esse trabalho despertou o interesse da equipe da Programadora Brasil em conversar com os coordenadores e freqüentadores do Cineclube Nangetu para melhorar a relação entre as instituições e estreitar a relação entre a fornecedora de filmes e seu público. Por fim, declarou seu contentamento com o que presenciou e parabenizou a todos por fazerem o cineclube acontecer.
Antes de finalizar os trabalhos, Mametu Nangetu anunciou que havia trazido algumas camisetas da Pré-jornada Nacional de cineclubes que aconteceu em Santa Maria no Rio Grande do Sul, e promoveu um sorteio entre os que ficaram até o final do debate.
Gracinete Belarosa foi uma das sorteadas da noite.



Texto e fotos de Táta Kinamboji/ Projeto Azuelar - Insitituto Nangetu/ Ponto de Mídia Livre.

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