domingo, 8 de maio de 2011

Oficina de capacitação profissional em Radiodramaturgia - “A História de Nzinga Mbandi Ngola”.


Numa parceria entre o Projeto Azuelar/ Instituto Nangetu, com o Projeto Comunicação para cidadania e imaginário social/ Idade Mídia, e com o apoio da rede[aparelho]-:, realizaremos a Oficina de capacitação profissional em Radiodramaturgia - “A História de Nzinga Mbandi Ngola”.
São 15 vagas, sendo 10 delas reservadas para a população de terreiros, e as inscrições são gratuitas. A oficina ocorrerá aos sábados (04/11/18 e25), no período vespertino, durante o mês de junho de 2011.

META

Realizar a produção de uma audioficção: produção eletroacústica sob o gênero radioteatro, alusiva a história da rainha Nzinga Mbandi Trabalhando a apropriação do imaginário social. Num período de 4 semanas – divididos em quatro encontros semanais de 3 horas cada.

OBJETIVO GERAL

 Realizar a produção eletroacústica - radioteatro, alusiva a história da rainha Nzinga Mbandi.

 Favorecer a criação e o fortalecimento de ecossistemas comunicativos abertos, dialógicos e criativos.


OBJETIVO ESPECÍFICO

 Oferecer aos participantes da oficina habilidades em rádio dramaturgia e formação histórico social afro-brasileira, pautadas na construção dos valores da cidadania e da garantia de direitos.

 Trabalhar a partir do conceito de gestão comunicativa, na qual percebemos que a comunicação precisa ser planejada, administrada e avaliada, coletivamente.

 Provocar o desenvolvimento da percepção auditiva, estimulando a criatividade, a imaginação e a memória;

 Resgatar, valorizar e compreender elementos da nossa herança cultural, situando-os no espaço social e histórico, mediante atividades e materiais que expressem esta cultura.

 Levar ao público o resultado do projeto, preservando-se a sobrevivência de crenças, saberes e tradições e suas representações coletivas; para recriarmos a história; constituída como uma nova forma de representação alegórica e figurativa da realidade, reforçando ou desconstruindo os elementos que os constituem na apropriação do imaginário social.

APRESENTAÇÃO


"Somente os diferentes; conscientes de sua diferença e de sua exclusão representam a verdadeira e digna humanidade. De modo que a condição primeira de todo individuo consciente deveria ser o anti-conformismo social. (Hannah Arendt in “A Condição Humana”).

A histórica distorção sobre a função social do rádio no Brasil e, principalmente, o atual império das reproduções eletrônicas de imagens na mídia, nos dá uma falsa impressão, justamente, por se tratar de um “veículo cego”, de que o rádio haveria alcançado uma situação limite, estando assim em vias de torna-se uma mídia ultrapassada e obsoleta. No entanto, a todo instante observamos o desenvolvimento de “novas áreas da produção artística onde experiências inovadoras no trato de novas ficções, novos ritmos, novos temas e um novo tratamento do tempo radiofônico têm apontado para outro modo de se pensar e se fazer rádio” (Bauab, 1990). Certamente, ainda há quem busque recuperar modernamente a tradição do folhetim, como também se têm criado produções radiofônicas surpreendentes na atualização do veículo para o desenvolvimento de outras linguagens como a literatura, o teatro e a música, proclamando o nascimento de uma linguagem singular, uma manifestação de natureza sonora, com intenções dramatúrgicas.
Isto tem sido a força propulsora na produção de recentes propostas eletroacústicas que buscam explorar o potencial do gênero, que entre nós, brasileiros, atende pela precária designação de radioteatro1 (quando intimamente associado à idéia de rádio-novela). Tais experiências têm reafirmado uma tendência à valorização da essência acústico-musical da radiofonia e os resultados de combinações entre fonemas, palavras, vozes, falas, música, cantos, ruídos, natureza, efeitos, sussurros, silêncios, tornaram-se “parte funcional” de uma linguagem híbrida que pode e deve ser estruturada em sons de acordo com cada finalidade dramatúrgica, em particular.
A ficção no rádio (audioficção - quase um sinônimo de radiodramaturgia) é entre todos os formatos radiofônicos o que mais oferece recursos para o desenvolvimento de habilidades comunicativas da expressão e da criatividade. Oferecendo possibilidades de fusão entre gêneros e técnicas, remixagens, colagens, justaposições e outras modalidades, que descortinam à peça radiofônica uma variedade de possibilidades no campo da arte cênica. Noutra frente: operações de técnicas específicas, a linguagem radiofônica, o áudio das linguagens híbridas e outros componentes sonoros são reproduzidos, modificados e organizados de acordo com determinadas intenções; agregando sensações, representações sensoriais, correlações conceituais e impressões pessoais, acionadas por intermédio de determinados sinais acústicos2. Característica elementar que nos faz pensar na produção radiofônica (rádio-linguagem) como um recurso privilegiado, que através da apropriação dos meios torna-se um registro da identidade histórica e cultural e, ao mesmo tempo, uma construção do discurso simbólico de identidade3 dos próprios sujeitos sociais.
Múltiplos projetos de educomunicação estão disseminados, no Brasil. Entre os diversos objetivos dessa intensa atividade, uma constante é a contribuição para construção dos valores da cidadania e da garantia de direitos. Pois é, justamente, a partir do conceito de cidadania que se insere o debate sobre a função social do rádio. Pressupondo-se que cidadania não é algo que se ganha, mas que se constrói a partir de sensibilização, conscientização, mobilização de indivíduos transformados em sujeitos históricos cientes de sua própria condição e perpassa pelo respeito à diversidade de opiniões.
Apresentamos, assim, a necessidade de utilizarmos a realização desta produção radiofônica como alicerce da criação de um ecossistema comunicativo aberto, dialógico e criativo, com intenções dramatúrgicas. Propomos a realização de uma oficina interativa de radioteatro, para que reforce a construção de um modelo de comunicação democrática e co-participativa e possa valorizar elementos de uma herança cultural, situando-a no espaço social e histórico.
Ao término desta “Oficina Experimental de Radioteatro”, pretendemos apresentar e tornar público o resultado final de nossas atividades: A produção de uma “peça radiofônica”, que reconte a história de Nzinga Mbandi Ngola, constituída como uma nova forma de representação alegórica e figurativa da realidade, apropriando-se de seu imaginário social.


“A História de Nzinga Mbandi Ngola”


A Rainha Nzinga Mbandi Ngola (1582-1663) é o maior símbolo de resistência africana à colonização européia. Seu registro em nossa história é o de uma mulher destemida, combatente, exímia estrategista militar e uma astuciosa diplomata. É cultuada como a heroína angolana das primeiras resistências pelos modernos movimentos nacionalistas de Angola; e tem despertado um crescente interesse dos historiadores e antropólogos para a compreensão daquele momento histórico que caracterizou a destreza política e de armas desta rainha africana na resistência à ocupação dos portugueses ao território angolano e ao conseqüente tráfico de escravos africanos.
A resistência de Nzinga à ocupação colonial e ao tráfico de escravos no seu reino por cerca de quarenta anos, usando de várias táticas e estratégias que vão desde a conversão ao cristianismo até as práticas jagas (como canibalismo), é fonte para a criação de um imaginário que se impôs como símbolo de luta contra a opressão. Memória de Ginga, memória de Zumbi.
Do grupo étnico Mbundu, era filha do rei dos mbundus no território Ndongo, hoje em Angola, e Matamba, Ngola Kiluanji, foi contemporânea de Zumbi dos Palmares (1655-1695), o grande herói afro-brasileiro, ambos pareceram compartilhar de um tempo e de um espaço comum de resistência: o quilombo.
A rainha quilombola de Matamba e Angola tornou-se mítica e foi uma das mulheres e heroínas africanas cuja memória desafiou tempo, dando origem a um imaginário cultural que invadiu o folclore brasileiro com o nome de Ginga, despertou o interesse dos iluministas como no romance Zingha, reine d’Angleterre. Histoire africaine (1769), do escritor francês de Toulouse, Jean-Louis Castilhon, inspirado nos seus feitos, e foi citada no livro L'Histoire de l'Afrique, da publicação Histoire Universelle (1765-1766). Ainda hoje é reverenciada como exemplo de heroína angolana pelos modernos movimentos nacionalistas de Angola. Sua vida tem despertado um crescente interesse dos historiadores, antropólogos e outros estudiosos do período do tráfico de escravos. Sua resistência à ocupação dos portugueses do território angolano e o conseqüente tráfico de escravos, tem sido motivo de intensos estudos para a compreensão de seu momento histórico, caracterizado por sua habilidade política e espírito de liderança desta rainha africana na defesa de sua nação. Também é conhecida como Jinga, Zhinga, Rainha Dona Ana e Rainha Zinga.

Ao realizarmos as peças e radioteatro com a memória da Rainha Nzinga - Rainha Ginga -, mantemnos acesa a presença da resistência negra no imaginário amazônico.

Texto extraído do projeto de oficina - Angelo Madson/ Idade Mídia
Cartaz - Idade Mídia

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